sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Eu, meu livro e uma viagem

Faltando uma semana para minha turma entrar de férias, ganhamos um prêmio pela vitória da gincana da escola: um passeio ao sítio da própria escola, em São Joaquim de Bicas (MG). Achei que minhas férias já tinham começado, engano meu. Minha professora propôs a leitura de um livro, A Colcha de Retalhos. Tinha planejado minhas férias nos mínimos detalhes, mas nenhum deles envolvia assuntos escolares. Acabei com a paciência da minha mãe, a fiz comprar o livro rápido, para que pudesse ler depressa para viajar. Quando ela comprou, olhei aquele livro fininho com cheirinho de novo, desisti de ler, coloquei na mala e fui para a rodoviária com destino a São Mateus (ES).O ônibus atrasou, estava entediada, e então resolvi naquele momento que leria o livro ali mesmo. Dez minutos se passaram e eu não conseguia largar o livro. Cada página que eu lia parecia contar a minha história. Todas as vezes que ia para casa da vovó, ela fazia vários doces, queijos e bolos. Como eu comia, nem sentia inveja de Felipe, o personagem da história. Minha avó sempre me contou várias histórias, mas não era de personagens inventados. Os personagens eram reais, e quantas vezes ouvi as mesmas histórias. Nem me lembro, já perdi a conta. Resolvi então ler o livro para ela, contar uma história diferente das que ouvia. Contei, e até encenei para ela a história de Felipe e sua avó. Ela ficou tão encantada que conseguiu me fazer demorar três dias para contar. A cada página que eu lia e encenava, minha avó contava um caso diferente. A maior surpresa estava por vir. Ela sabia que o que eu mais queria era uma colcha de retalhos. Levei um grande susto quando vi a colcha que ela tinha feito antes de se casar com meu avô. Achei que ela iria me dar. Não ganhei, mas tinha uma certeza. Não me deu, eu faço. As férias acabaram e eu voltei para Minas. Na escola, tive uma grande surpresa: um novo desafio nos foi proposto. Nossa professora pediu para que todos levassem um retalho que representasse a história do livro. Eu não levei um retalho, mas sim o grande retalho. Fui até a alfaiataria em frente de casa, busquei um retalho e fiz vários desenhos sobre ele, ficou lindo. Fizemos uma enorme colcha com um pedacinho de cada um. Este livro mexeu muito comigo e com a turma. Levamos a história do livro para a vida real. A colcha ficou maravilhosa e deixou uma mensagem ainda mais importante: temos que valorizar os pequenos gestos e coisas e como ler te leva para outro mundo – o mundo da imaginação. O ano de 1998 ficará marcado.Por Aline Souza Alves, de Contagem (MG)
Sobre a obra A Colcha de Retalhos, de Conceil Corrêa da Silva e Nye Ribeiro Silva (Editora do Brasil, 1995)

Terceita colocada do concurso é de Minas

Aline Souza Alves, funcionária da loja da C&A no Itaú Power Shopping, em Contagem (MG), é a terceira colocada na edição voluntários do concurso Uma Leitura que Mexeu com a Minha Cabeça. A competição elege os melhores textos sobre experiências pessoais de leitura escritos por voluntários do Instituto C&A. Neste ano, os voluntários deveriam escrever sobre literatura infantil.Aline escreveu sobre a obra A Colcha de Retalho e fala quanto tempo participa do Instituto.“Trabalho na loja há seis meses e sou voluntária do Instituto C&A há dois meses. Fiquei sabendo do concurso no mural interno e me interessei em participar. Mas o que determinou isso foi que todo mundo da loja falou para eu fazer o texto porque escrevia bem”, disse Aline. A voluntária tem 19 anos, possui ensino médio completo e nunca tinha participado de um concurso antes.alhos, de Conceil Corrêa da Silva e Nye RibeiroSobre A redação que ganhou a terceira colocação no concurso foi escrita em uma semana. “Eu ia escrevendo aos poucos. Colocava um trecho, depois revisava”, disse.Depois que enviou o texto para o concurso, Aline releu a obra A Colcha de Retalhos, para relembrar a história e também a sua infância.a escolha da obra que inspirou sua redação, Aline contou que ia escrever sobre outro livro, mas, quando foi procurá-lo em sua estante, encontrou A Colcha de Retalhos. O título trazia boas lembranças sobre as férias que passava com sua avó. “Quando vi o livro, percebi que tinha sido muito mais importante para mim do que o outro que eu pensara em utilizar”, contou Silva (Editora do Brasil, 1995).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Entrevista da ganhadora ao Site do Instituto, confira.

Suellen Patrícia de Andrade, funcionária da loja da C&A do Santana Parque Shopping, em São Paulo (SP), é a primeira colocada na edição voluntários do concurso Uma Leitura que Mexeu com a Minha Cabeça. A competição elege os melhores textos sobre experiências pessoais de leitura escritos por voluntários do Instituto C&A. Neste ano, os voluntários deveriam escrever sobre literatura infantil. A obra que inspirou Suellen a escrever seu texto foi O livro que queria ser brinquedo, de Sandra Aymone (Editora Educar DPaschoal, 2005). Cada unidade da C&A poderia escolher até duas redações para o concurso nacional.Sessenta e nove lojas participaram do processo. Os 99 textos pré-selecionados foram analisados segundo critérios como clareza, criatividade, originalidade e qualidade literária. A avaliação foi conduzida por profissionais de áreas diversas ligadas à leitura e à literatura e que compõem o Roedores de Livros.Ela estuda Pedagogia e está se especializando no ensino para crianças cegas. “É a primeira vez que participo do concurso. Eu me interessei em escrever quando vi que o tema era literatura infantil. Esse é o meu mundo”, diz Suellen. O texto que levou a primeira colocação no concurso foi reescrito três vezes. “Nem sei quanto tempo demorei para escrever. Gravei o texto no computador da loja e quando sobrava um tempo mexia nele”, relembra Suellen. A estudante conta, ainda, que antes de mandar o texto para o Instituto C&A mostrou os escritos para sua mãe, para uma funcionária da loja e para a supervisora da unidade. “Todas gostaram muito”, comemora. Os três primeiros colocados ganharão R$ 200 para a aquisição de livros. “Vou comprar os livros que preciso para a faculdade”, antecipa Suellen. Leia, a seguir, o texto vencedor.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Beleza Interior por Suellen Andrade(SP)

Desde pequena sempre fui muito interessada em ler e escrever, nunca tive livros, pois meus pais não tinham condições de comprá-los. Então me divertia com os livros de português, história e geografia dados pela escola. Adorava ler as histórias dos livros e fazer os exercícios propostos neles. O mais engraçado era que sempre era a primeira da sala a estar com a lição pronta. Eu também adorava inventar histórias de castelos e princesas, fazer desenhos muito coloridos com princesas de cabelos cacheados, pois nos contos de fada nenhuma tinha cabelos cacheados como os meus. Lembro-me que na segunda série recebi um livro de português, que continha várias histórias, contos e fábulas. Eu os lia assim que chegava em casa. Foi através do contato que tenho com as crianças deficientes visuais que me lembrei desta história, não me recordo o nome nem o autor, mas vou relatar o que lembro.A história falava de um pavão que ficava se gabando de sua beleza e menosprezando os outros animais do zoológico. Ele dizia a todos que as crianças se encantavam com as suas plumagens e que ele era perfeito. Todos os animais do zoológico se sentiam feios com o que o pavão dizia, até que um belo dia surge no zoológico um novo animal. Era uma arara azul e suas plumas eram de um azul tão lindo. A arara não se gabava de sua beleza e logo se tornou amiga de todos os animais, mas o pavão morrendo de inveja foi lá tomar satisfação com a arara e disse: – Você não deve se misturar com esses animais feios. A arara muito brava respondeu: – Mas somos todos bonitos, cada um com a sua beleza e cada um com seus defeitos também. – Imagina! Eu sou perfeito, olhe as minhas plumas, são as mais lindas do mundo – disse o pavão abrindo elegantemente suas plumas. – Realmente, são lindas suas plumas, mas você já observou suas patas? Olhe para elas, veja como são enrugadas, e estas unhas que horríveis – disse a arara. E todos os animais caíram na gargalhada. A arara mostrou a todos que o que vale realmente não é nossa aparência, mas sim o que somos por dentro, e o que é mais valioso é a nossa beleza interior. O que me fez lembrar dessa história foi uma menina linda que se chama Helloá. Ela é cega congênita, e como no Brasil não são muitos os livros que são transcritos em Braille nós visitamos algumas escolas ou entidades, escolhemos alguns livros para lermos para as crianças e, além da leitura, buscamos objetos e algumas texturas para as crianças tocarem e terem a percepção de como é o personagem ou algum objeto descrito na leitura que estamos fazendo a elas. Nesse dia escolhemos uma história chamada “O livro que queria ser brinquedo”, de Sandra Aymone, e junto levamos alguns personagens do livro, o livro de capa dura, a bola, a pipa, a bóia, o caminhãozinho, os cubinhos de madeira e até um cacto de verdade. Em determinado momento estou eu tomando o maior cuidado com o cacto e colocando a mão da Helloá bem devagar para ela não se machucar com os espinhos da planta, e então ela me disse: – Tia Su, você é tão linda! E a minha reação foi responder: – A tia nem se arrumou direito hoje. Então ela disse: – Tia Su esqueceu que eu enxergo diferente de você? A minha visão vai além da sua, pois eu enxergo aqui! Neste momento ela colocou a mãozinha em meu peito, indicando que enxerga o meu coração. Foi então que me lembrei que a beleza mais importante é a beleza interior. Cheguei em minha casa nesse dia com uma visão totalmente diferente do mundo. Fiquei pensando no que a pequena Helloá havia me dito, como pode uma menina de sete anos me dar uma lição tão valiosa como essa? Foi então que decidi relatar sobre a leitura que mexeu com a minha cabeça, para que outras pessoas recebam a mensagem de uma menina cega que enxerga muito além do que os nossos olhos podem ver